GRITO Antonin Artaud O pequeno poeta celeste Abre as persianas de seu coração Os céus se entrechocam. O esquecimento Desenraíza a sinfonia. Palafreneiro da casa louca Que te deixa guardar os lobos Não suspeite dos coléricos Que se encobrem sob a grande alcova Da cúpula que pende sobre nós. Em consequência silêncio e noite Amordace toda impureza O céu de grandes entrelaces Avança ao carrefour de ruídos A estrela come. O céu oblíquo Abre seu voo em direção aos cumes A noite varre os dejetos Do repouso que nos continha Sobre a terra uma lesma Saúda dez mil brancas mãos Uma lesma rasteja ali Onde a terra se dissipou Ora os anjos voltavam à paz Que nenhuma obscenidade chama Quando se eleva a voz real Do espírito que os chamava O sol mais baixo do que o dia Vaporiza todo o mar Um sonho estranho e no entanto claro Nascia sobre a terra em derrota O pequeno poeta perdido Deixa a sua posição celeste Com a ideia de um além-terra Encerrando em seu coração áspero Duas tradições se encontraram Mas nossos pensamentos arraigados Não tinham o lugar merecido Experiência a recomeçar
Poema: GRITO, de A. Artaud
Atualizado: 23 de mai. de 2020
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